Vivemos na era da tecnologia e da digitalização, no período de expansão da inteligência artificial e do machine learning. Nunca, como agora, a sociedade registou uma transformação tão profunda e tão rápida como aquela que temos assistido nos últimos anos.
Ainda assim, em algumas áreas continuamos a viver e a trabalhar na Idade da Pedra. Falo, em particular, da realidade do sistema financeiro, onde a banca tradicional tem demorado a apanhar o “comboio” da inovação para atender às novas necessidades dos seus clientes, nomeadamente, das empresas.
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Fintech: a resposta para um sistema financeiro arcaico
Basta olharmos para a forma arcaica e obsoleta como ainda se fazem os processos de reconciliação bancária para perceber que há um longo caminho a desbravar no que diz respeito à identificação de movimentos e ao acesso à informação financeira.
Mas enquanto em Portugal esperamos pelo próximo comboio, pela próxima oportunidade de inovação, lá fora as instituições financeiras estão a dar passos gigantes com o poder de transformar o sistema financeiro mundial.
O que está a ser feito pelas Fintech?
O exemplo mais recente dá nota da compra da Fintech Tink por parte da Visa, numa operação avaliada em 1,8 mil milhões de euros. Através de uma API (Application Programming Interface) esta plataforma sueca de open banking permite aos seus utilizadores acederem a dados financeiros agregados.
Desta forma, o sucesso da Tink assenta no facto de ter desenvolvido uma solução para dar uma resposta às novas necessidades e exigências da Diretiva dos Serviços de Pagamento (PSD2) e é hoje utilizada por mais de 3.400 bancos e instituições financeiras.
Com esta aquisição, a Visa pode oferecer a todos os bancos da sua rede (e em todo o mundo) a solução da Tink e com isso posicionar-se para liderar uma nova geração dos serviços de agregação financeira a nível global.
O exemplo mostra não só como a inovação do sistema financeiro está a ser liderada pelas Fintech mas também como as entidades mais tradicionais podem (e devem) aproveitar o know-how e o conhecimento especializado destas empresas tecnológicas, para impulsionar os níveis de inovação das suas organizações.
Quais são os desafios na procura pela inovação?
Os bancos tradicionais são como uma orquestra, com múltiplos instrumentos a tocar em simultâneo, com a preocupação de que nenhum deles esteja desafinado.
Com tantos “instrumentos” para dirigir é difícil para um banco tradicional dedicar tempo e recursos na criação de serviços e soluções diferenciadoras e inovadoras. Especialmente no atual contexto, em que o sistema financeiro se depara com desafios acrescidos relacionados com a sustentabilidade dos seus modelos de negócios e a redução de ativos não produtivos. Tudo isto acompanhado por um ambiente regulatório cada vez mais complexo e exigente.
A gestão de todos estes desafios deixa, naturalmente, pouca margem para a aposta na diferenciação e na inovação. E é exatamente por essa razão que me parece inevitável existir uma maior colaboração – seja por aquisições ou estabelecimento de parcerias – entre a banca tradicional e as empresas tecnológicas financeiras.
O facto de se especializarem no desenvolvimento de soluções distintivas para resolver os problemas das empresas, faz com que as Fintech tenham uma maior capacidade de foco para criar soluções “out of the box” e transformar ainda mais o sistema financeiro.
Só assim, juntos, poderemos garantir que não perdemos o “comboio” da inovação nos serviços financeiros. Só assim, trabalhando em parceria, evitaremos ficar parados no apeadeiro da Idade da Pedra.
Artigo de Sebastião de Lancastre, CEO da Easypay, para o dinheirovivo.pt. Veja aqui a versão original.